Saturday, December 15, 2007

Contrato

- Dorme comigo?
Não fujo, me rendo.
Me rasga, me arranha,
Te mordo pra guardar na língua teu gosto.
No meu ouvido, sussurra o que eu quero ouvir,
sorrio de prazer e te agradeço:
- Também adoro você dentro de mim.
Enquanto dorme, te espio.
Naquele momento, te amo
e chego até a sonhar: perigo!
Me viro de lado e me deparo com um espelho
que me lembra as regras do jogo:
Entre nós só os lençóis
e, na manhã de chuva fina do dia seguinte,
dividimos apenas o guarda-chuva e o silêncio.

Wednesday, September 26, 2007

Adeus

Entre sem bater
Me ame mesmo que doer
Perdoe meu punhal
Às vezes, é preciso sangrar
Das estrelas, engula o brilho
Chore doce, abrace a dor como um filho
Repouse em mim o seu pavor
Às vezes, é melhor morrer
Acenda a luz e estufe o peito
Na manga, ainda tem um ás:
Acorda pro amanhã, meu bem,
que o meu já não vem mais.

Friday, September 14, 2007

O sorriso que dá quando deixa em mim suas lágrimas, em gozos, extaziado,
é a armadilha em que mais desejo cair e que me abre feito céu de sábado.

Sou tua quando beijo o azul da tua alma-olho,
És meu quando ri me vendo dormir

Nossa cama, braços abertos em sussurros,
declarações delirantes, mas nem por isso sem valor
Pelo contrário, é por elas que nos despimos e somos somente Amor.

Saturday, August 11, 2007

A tela em branco me encara como quem duvida dos meus pensamentos. Sou eu, ela e a voz da canção que canta dentro de mim.
Mais um cigarro, e outro, e nada.
Calor, tiro o casaco, ela continua me olhando. “Diz aí!”.
Penso com meus botões que só o que posso dá-la é o vento frio que entra pela janela, o meu saboroso gole d’água e o refrão compassado. O resto é todo meu, sensações e lembranças, rápidas demais pra virarem palavras. Carrossel colorido e preto-e-branco.
Deito na cama, fecho os olhos, ouço o burburinho da rua e engulo o meu próprio silêncio.
Ahhh, não cansa de mim? Pois até eu me canso! Ou seria principalmente eu me canso...
Tantas letrinhas, numerozinhos e sinaizinhos, não são o que eu preciso.
Como se escreve um assovio? E os lábios dele nos meus? Ou a dor gostosa das risadas de ontem?
É tudo de verdade demais pra se acorrentar.
Dou-me por vencida, te desligo e vou sonhar.

Wednesday, July 11, 2007

Saudade

Do riso que faz a barriga doer
Do balanço que faz o pé tocar o céu
Do vento batendo no rosto
Das palavras que devia ter dito
Do beijo que não ganhei
Do porre pra esquecer o que passou
Dos abraços de amizade
Das mentiras ditas aos sussurros
Do grande amor que iria achar
Dos filhos ainda sonhos
Da barriga crescida
Do primeiro sorriso
Das lágrimas de desespero
Do cheiro de mesa posta
Das flores no túmulo

Sinto saudade do que vi e do que ainda não vivi.
Sinto saudade do que sou e do que nunca serei.
Sinto saudade da vida e da morte.
Sinto saudade.

Wednesday, June 20, 2007

Queria ser o cigarro que manuseias com tanta destreza,
O vício sorrateiro que consome teu pulmão
A bala perdida que te alcança na esquina pra lembrar-te do dia em que perdida me deixou.
Sentirias o sangue quente na garganta feito o não-amor que me fere por dentro
E enfim morrerias arrependido por ter reencarnado na mesma vida que eu.

Friday, May 25, 2007

Quando ele vai embora

No mundo da Lua, com o coração na mão e as bochechas em brasa.
É assim que eu fico, quando ele vai embora.

Friday, May 18, 2007

Nesses últimos dias, tenho encontrado tanta gente por acaso e mesmo que tais pessoas não sejam realmente próximos, achei bom ver rostos conhecidos no meio do turbilhão das ruas. Talvez esteja desacostumada com o movimento, as cores, a pressa da cidade. Tenho ficado muito tempo reclusa, usando a linguagem escrita em conversas virtuais e a falada com uma única pessoa que, graças a Deus, consegue entender a minha incapacidade de me expressar claramente. Não reclamo, não, estou feliz, serena, tá tudo bem. Mas não sei, eu tô tendo uma nova percepção das coisas/pessoas, tento usar à máxima potência meus sentidos para vivê-las de verdade. Como se fosse a primeira e última vez. Por isso o sorriso e olhar estranhos quando ando de ônibus, com a cabeça pra fora, sentindo o vento e tudo a minha volta. Por isso a vontade de tocar na saboneteira da minha avó em forma de Chaplin que tá ali há anos e eu nunca reparei de fato, de gravar a arrumação da mesa do almoço, a cor dos legumes cuidadosamente arrumados, do zelo da minha avó nos servindo, da voz alta da minha mãe, das asneiras que a minha irmã fala. É tudo tão intenso agora, sinto a história de cada objeto que toco, cada música que canto de olhos fechados e sei de cor, cada sorriso e palavras trocados. Recolho essa sensações como se fossem mudas e planto-as como flores no meu coração-jardim.

Thursday, May 17, 2007

Durmo sempre com as pernas semiabertas
Para que tu, Romeu,
aconchegue-se entre elas
e me faça menos só
acolhendo um gato castrado.

Sunday, April 22, 2007

Se palavras pudessem ser trocadas, eu as trocaria pelo seu silêncio
Pelo silêncio mais cortante, que seja, contanto que pudesse ser meu,
Muito melhor que essas lembranças de letras que eu guardo à força,
resquícios de vontades e esperanças levadas na primeira ventania
O silêncio não, o silêncio tem o poder do seus olhos negros intensos
E eu o queria aqui, comigo, a me fitar e engolir.

Tuesday, April 03, 2007

Se o seu sorriso não fosse tão bonito,
Eu talvez não o quisesse pra mim
Se ao menos o seu cheiro me largasse,
Seria mais fácil não lembrar
Se você não coubesse certinho no meio dos meus peitos
Não seria tão perfeito
Mas é.
Eu poderia passar o resto dos meus dias contando todas as pintinhas do seu corpo.
E ainda assim, quando acabasse, fingiria ter perdido a conta só pra começar de novo.
De novo, de novo, de novo, de novo, de novo, de novo...

Thursday, March 29, 2007

Um brinde, uma noite,

voilá:

Esse sorrisinho besta estampado na cara.

Saturday, March 17, 2007

Lar, doce lar

Do meu coração descoberto,
sem abrigo ou teto,
Nem precisou arrombar porta,
porque porta já não tinha.

Ocupou a casa toda,
do banheiro à cozinha.
Mudou tudo de posição,
acabei indo dormir no colchão.

Até que um dia pensei "é agora!"
e te tranquei do lado de fora.
Do meu reino, voltei a ser rainha:
No coração coloquei fechadura, olho mágico e campainha.

Friday, February 23, 2007

Castigo

Cortem as asas da borboleta,
Tranquem-na num casulo-calabouço,
Deixem-na sem luz, sem cor, sem ar
Azar - o dela.
Quem mandou querer voar.

Monday, February 05, 2007

Era uma vez...the end.

Era roteiro de cinema, filme de amor pra rir e chorar.
Era bebida, desejo, ponto, escuro, claro.
Céu pintado de azul, rosa e amarelo.
É, era a gente e o céu lindo em cima. Oscar de fotografia.
Mas amanheceu e virou silêncio, daqueles de fazer doer.
Vontade de falar engolida pela vontade de não mudar.
Desistir ao invés de tentar.
Ficou a Lua cheia, a alma vazia,
Os olhares perdidos e a despedida.
Os créditos subiram antes da última cena,
O salgado de lágrima escorreu antes do aplauso.
Agora foi o fim do que nem começou.

Saturday, January 06, 2007

Acabou

Tire suas mãos de mim
Se contente a olhar pra trás
Pro porta retrato que você quebrou
Nossa vida em cacos de vidro no chão

Aí você se tranca nesse quarto
E encomenda prazer barato
Eu cansei de me doar

Vou passar batom vermelho
Vestir a saia que você odeia
Voar pra bem longe

Abro as asas
Bato a porta
Pra nunca mais voltar

Faça companhia às garrafas
Não me culpe, foi sua culpa
Acabou

Thursday, January 04, 2007

Elas

Ela é soprano. Não vê a hora de ter filhos, todos dizem que nasceu pra ser mãe. Em dias de chuva, imagina a risada gostosa que eles vão ter, o barulho das correrias e brincadeiras pela casa, o cheirinho bom de bolo que ela vai fazer pra eles. Ela quer se casar, mas não precisa ser em Igreja não, contanto que seja de branco e tenha chuva de arroz no fim. Vai ser uma ótima dona de casa, daquelas que põe a mesa pro marido que chegou morto do trabalho. Cuida das plantes, tem um jardim lindo, flor, borboleta, passarinho, balanço. "As crianças vão gostar!" Usa vestido rodado, estampadinho, acha lindo, se sente mais mulher. O marido gosta, a sente mais menina.
É feliz, desde já, desde que nasceu. Vai ser feliz, até a hora da morte, até agora.

Ela já teve o cabelo de todas as cores do arco-íris, "uma hora cai!", vive dizendo sua mãe. Não sabe se gosta mais de meninas ou meninos. Acha confortável passar noites fora, beber e fazer amizades instantâneas. Gosta de provocar homens mais velhos e cometer pequenos furtos. Nunca teve um namorado de verdade, apesar de construir uma imagem de menina super poderosa, é insegura e tem medo de se entregar. Sempre quis ter uma parede preta no quarto e espelho no teto, agora que seu pai morreu, acha que a mãe vai deixar. Pensa em fazer moda ou ser tatuadora se não se suicidar antes dos 25. Por hora, deixa o cabelo vermelho pra realçar o verde do olho.
É infeliz, desde já, desde que nasceu. Vai ser feliz, depois da morte, agora.

Ela é bem sucedida. Apesar de todos os traumas de infância, de ter perdido o pai cedo, etc. Sua mãe era doidona, vivia um eterno Woodstock. Ela nunca quis aquela vida desregrada, ser vegetariana, ser nômade. Queria o turbilhão do século XXI, e conseguiu. Altiva, sapatos caros, de vez em quando cheira pó, mas prefere o whisky no conforto da casa. Tem amigos, faz jantares, "ela é ótima!". Se mastuba com frequência e adora seu batom vermelho. Sai pra dançar, "ballet clássico, a única coisa sensata que ela fez na vida!", se perguntam seu nome, ela sempre mente. Realiza todas suas fantasias sexuais interpretando personagens com os desconhecidos que leva pra casa. Já pensou em ter filhos, mas desistiu da idéia, não tem tempo, fuma muito, gosta do silêncio. Vai se apaixonar pelo entregador de pizza que está tocando a campanhia.
É bipolar, desde já, desde que nasceu. Vai ser feliz, pra sempre.