Thursday, December 15, 2011

Quando o olhar não permite fuga
cabo-de-guerra ao avesso: quem solta a corda ganha também
Quando dá água na boca e quem manda é o corpo,
supera a razão, provoca o encontro
Encosta, arrepia, já era
Quando a sede só é saciada com língua, beijo e mordida,
é pele que sua, molha e não desgruda
Quando tudo aprendido então faz sentido:
seu abraço encontrou meu sorriso.
A rima tá feita. Entrega.

Sunday, November 27, 2011

Pode ser de dentro pra fora
ou de fora pra dentro
Poesia é movimento
Cambalhota, salto a distância, passo a frente

Sua procura já é um achado
Luz no fim do túnel, pôr-do-sol no fim do dia
Feita em sonho ou sala de espera de dentista
Passatempo, caça-palavras, quebra-cabeça

Sobre céus e infernos
É queda-de-braço, luta livre, parto sem anestesia
Tudo o que falta e o que transborda é poesia

Monday, October 24, 2011

Amor natural

Poucas coisas nesse mundo superam a delícia de, ainda dormindo,
sentir o membro do homem amado já acordado.
Sem abrir os olhos, entregar o corpo sonolento
ao comando de seu desejo badalando as 12 horas.
Então, o que era botão abre-se em flor.
E deste sonho de vai-e-vem sonâmbulo,
desperto num gozo doce de bom dia.

Friday, September 30, 2011

Casa da Cachaça

Na esquina da Mem de Sá,
a última ponta, o último gole no gengibre, a última ronda
Olhos vermelhos caçam
Bocas vermelhas querem
Nem sempre se encontram: já é sábado.

Tuesday, July 19, 2011

Atravessamentos

Acumulo atravessamentos 
Turistas que, tão logo conhecem minhas paisagens, 
sentem saudade da terra natal ou tem ânsia de seguir viagem 
Todos partem 
E carregam consigo pedaços de mim 
Quero quem faça de mim morada 
Quero quem finque bandeira no meio de minh’alma 
Quero gente que fique

Thursday, June 30, 2011

Dentro de mim correm rios-serpentinas, mares infinitos espumando em pedras antigas
Há um sol se pondo em rosa, laranja e vermelho a cada cinco minutos
A estrela mais brilhante acompanha uma lua filete de sorriso de gato da Alice e outra lua cheia, prestes a parir
Um sol nasce rei toda vez que meu corpo acorda céu azul
Às vezes chove, acima da média esperada para o mês de julho
Aí eu nado em angústia, bóio à deriva na minha própria imensidão
E logo depois me torno deserto, quilômetros e quilômetros de veias, órgãos, músculos, ossos e reações químicas existindo sem um fim
Mas é quando a sede cega encontra o nó mais apertado da garganta,
Que nasce uma flor-oásis na palma da minha mão
Com uma coceira que não dá pra alcançar, sinto que ganhei asas
Sobrevôo esse planeta misterioso que sou,
Sobrevivo mais uma vez a esse eclipse em carne viva que é ser eu.

Monday, May 16, 2011

Anedota passageira

Tenho dormido com muitos homens, 
mulheres também. 
De quase todos, fico sem saber o nome. 
E, por vezes, se levantam sem que eu tenha acordado. 
Promiscuidade inocente de quem pega no sono 
no ônibus, 
a caminho de Niterói.

Tuesday, May 03, 2011

Sonhei contigo:

Era de tarde e o sol esquentava gostoso nossas peles.
Talvez fosse outono, porque não suávamos.
De onde estávamos dava pra ver o horizonte.
Antes dele vinha o mar ou era a Baía de Guanabara mesmo, mas sem o Pão de Açúcar e o Corcovado.
Sentados, próximos, havia uma ansiedade delicada e conversávamos.
Você tava sem camisa e eu fui me chegando aos poucos, enquadrando a paisagem na metade de porta-retrato que o seu ombro esquerdo e a sua nuca formavam.
O pôr-do-sol tingiu o céu de um laranja e rosa bem vivos
E você me explicou que víamos aquelas cores por causa de um experimento lisérgico-científico que houve há muitos anos em Cuba.
Foi aí então que decidi fechar os olhos e te dar um beijo nas costas.
Como se aquele fosse um código pré-determinado que disparasse o sinal de quando a quantidade de espera, vontade, batimentos cardíacos, brilho nos olhos e saliva alcançasse os níveis perfeitos para nos tornarmos um par.
Aí o telefone tocou, eu acordei e desde então ando com esse pedaço de papel no bolso pra te entregar.

Monday, March 21, 2011

Sobre a urgência.

Acordei. Na boca, o gosto amargo do vinho de ontem. Antes de abrir os olhos refaço os passos que dei até chegar à minha cama. Passos tontos, através deles, chego também as palavras. Desejo com força que tenha sido sonho. Mas não foi. Lembro da música, das cores, do movimento, dos rostos, de alguns, é verdade. Lembro também das besteiras que disse e de como me portei. Já não sei se quero acordar, mas agora é tarde. Dormir mais não vai apagar a noite de ontem, embora a memória que tenho dela não seja nítida. Ainda assim me lembro, da Orquestra Voadora, do êxtase, do vinho, de um beijo, do argumento de que confiar no acaso é mais bonito que pegar meu telefone, dos segredos que eu não devia ter exposto em uma mesa de bar, das mensagens enviadas sem resposta antes de dormir. E, apesar de tudo, não me culpo, tenho urgência correndo nas veias. E ajo desesperadamente pra fazer as coisas acontecerem, dou passos maiores que minhas pernas, tropeço, mas continuo correndo na tentativa de encurtar o caminho entre eu e o amor que carrego no nome. Tenho urgência. A cada encontro, minha imaginação se delicia com as possibilidades futuras e, antes que eu queira, ela já construiu planos, pontes, travessia, vida inteira pela frente. Me joga sem paraquedas pra fora do avião e eu acredito que vai ter alguém lá embaixo esperando pra me segurar. Quase nunca tem. Mas eu tenho urgência: eu sempre acredito.

Friday, January 28, 2011

Acredito

Há um mês
O olhar atento, à espreita,
preparado para qualquer encontro armado pelo acaso

Encontro que não acontece,
olhar que se distancia
e quase se perde, impaciente

Coração-lua minguante,
mas que no dia seguinte cresce,
pois se alimenta das lembranças visitadas antes de dormir

E assim, coração sonha e se agiganta
Ignorando a ausência,
de teimoso, insiste na esperança

Há um mês essa luta
Trabalho árduo que cansa
Queda de braço entre o sim e o não

Mas se quer mesmo saber,
pra certeza assim sentida no toque da palma da mão,
não há medo, não há tempo, nem angústia

E até que todas as canções de amor me provem o contrário,
Acredito.

Monday, January 10, 2011

O estranho caso da vontade com o acaso

"É que acaso não complica com expectativa.
Por isso é tão gostoso!
Acaso se alimenta de tudo aquilo que não tenta
Dizem até que é um caso perdido
Quando você procura não acha
- Ah... vontade, relaxa! Que acaso, acontece."


Trecho de um poema da bonita Alice, que conseguiu acalmar a minha vontade e renovar a fé no acaso. O blog dela é esse aqui ;)