São dez e meia da manhã
de uma terça-feira nublada. Mas não choro por estar nublado. Nem
choro porque estou ouvindo uma música triste. Choro porque carrego
em mim uma terça-feira nublada e uma música triste. Elas rolam de
meus olhos em formato de pérolas. E eu sinto como um milagre. Chorando
colares de pérolas que não adornarão pescoços nenhum, pois secam
antes de chegar lá. Chorando colares de pérola dentro do mar,
perdendo as contas, segurando as pernas, deixando água entrar pela
boca, nariz, deixar de respirar. Mas sempre existe um fiapo de
existência que não deixa os olhos fecharem de uma vez, que faz eu
me debater e procurar a superfície. Por pouco, não sei deixar de
estar viva. Essa força inevitável e brutal que me pede a coragem
que eu não sei se tenho. Penso que se ela me pede é porque tenho. Tenho
que desistir de desistir, nadar pra cima, achar o céu e
contemplá-lo. E agradecer por mais uma vez estar olhando para ele e
saber enxergar sua beleza. Por não ter afundado, por saber boiar.
Por um fiapo de existência. Por um triz.
1 comment:
A gente sempre tem que mirar a luz: do sol. O nublado é um trem chato, não gosto. Sempre achei que a nossa existência tá muito ligada ao calor. Esquente-se!
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