Monday, September 11, 2006

Primeiro

Após uma tentativa frustrada de encontrar a fantasia perfeita pra festa, me encontro sentada no metrô.
Exatamente entre uma senhora mascando chiclete desagradavelmente e um homem de bigode bem preto que só faz balançar a cabeça em devaneios e rir aquele tipo de risada que só os homens de bigode riem.
Bem na minha frente há um homem e uma mulher com uma menina de pernas abertas e saia sentada em seu colo.
Ao lado deles, um homem - desses homens estranhos quem andam de metrô – nem novo, nem velho, quase calvo, olhar perturbado, meio transbordando pros lados a todo instante. Carrega uma espécie de fichário cujos dizeres “11º Festival de...” não consegui terminar de ler porque a risada do homem de bigode foi muito alta desta vez e roubou minha atenção.
O alvo do ‘risinho seguido do balançar de cabeça em devaneios’ é um casal de jovens que em pé se abraçam, se beijam e sussurram coisinhas de amor ao pé do ouvido. Achei a cena engraçado, a reação que eles causam no homem de bigode. Quis mergulhar na mente dele pra resgatar suas lembranças, porque com essa risada e balançar de cabeça só pode ter lembrança das boas no meio!
Duas estações a mais e paro pra observar as pessoas à minha frente com mais atenção, chego à conclusão que o cara ao lado da mulher é o pai da menina. (Ele acaba de dar mais um gole do guaraná à filha mimada, retrato da filha que eu não quero ter.) Aliás, eu adoro fazer isso, ficar analisando a genética alheia. A menina tem os olhos, a sobrancelha e o tipo físico do pai, o resto é da mãe..
Agora exatamente a mulher do chiclete se inclina pra perto de mim, o barulho dela mastigando entra insuportavelmente no meu ouvido, tento me afasta e fingir que parei de escrever, olho pra frente e me deparo com a menina prestes a abrir o berreiro.
E antes que eu pudesse achar o barulho do chiclete insuportável, já que a mulher esgueira-se pra enxergar alguma coisa, a menina mimada irritante, o cara estranho ainda mais estranho, o homem de bigode se incomodar com a minha escrita indiscreta, o grude do casal meloso demais e a minha letra péssima, uma voz artificial me diz: “Próxima estação: Siqueira Campos. Desembarque pelo lado direito.”
Não dá tempo de dobrar o papel, nem guardar a lapiseira, todos saem em debandada e eu satisfeita olho praquela gente como se dissesse: Brigada, tá pronto o primeiro texto do meu blog.

2 comments:

Anonymous said...

Romã! Adoreeeeeeeeei! hahaha!
Beijoo gata! ;*

Júlia D'Ávila said...

hahahaha,
óóóóótimo!

;)